Por excelência, um dos valores mais humanos é a solidariedade. A solidariedade é definida como a mútua colaboração, que promove a união entre os os homem sem todos os momentos, especialmente quando de uma experiência de difícil passagem.
“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”
- John Donne -
Solidariedade é a consciência desperta na intimidade coletiva da sociedade. Os homens estão unidos e essa união se torna mais intensa diante das adversidades e ataques externos. No entanto, nem sempre possuímos a consciência desse vínculo. A solidariedade se manifesta em atitudes fraternas, ela não é imposta. Ela é uma virtude que nasce por si mesma, espontaneamente, no coração dos homens. É como o raio quente do sol: onde quer que caia, deixa um calor que irradia vida, sem se impor. O fundamento e a fonte da solidariedade é a preocupação com a vida e seus percalços, que oportuniza a semeadura neste plano existencial. A solidariedade, é uma casa arrumada e unificada, que convida os homens de boa vontade a agir. A solidariedade, unifica e liga a instituição da família, mais profundamente e mais permanentemente do que o medo. Ela, a solidariedade, é o ato de resgatar a dignidade humana e está fundamentada em sua consciência e esta é solidaria às outras consciências. Como uma ideia, a solidariedade não está relacionada com nenhuma teoria completa e não precisa essencialmente de justificativas, ela se justifica. No entanto, a solidariedade requer a consciência. É necessário questionar, o que o ato solidário nos diz? O homem sempre foi solidário com alguém. Então, com quem devemos ser solidários? Ao seguir esta linha deste questionamento, também poderia ser perguntado, por meio de quais ações e obras poderia a solidariedade se expressar? A maior preocupação é com algo mais profundo, que são as reflexões sobre o caráter ético da sociedade. Pois o principal objetivo da ética é sustentar o homem homem. Sustentá-lo no caminho de sua vida e mostrá-lo, de maneira possivelmente inequívoca, entre quais os valores nortearão os seus atos em sua vida. Uma vez que o homem deve ser consciente dos valores que regem a sua sociedade.
Assim sendo, ele adquire a capacidade de formular restrições e diretivas no exercício da solidariedade. Portanto, chamo a atenção para dois pontos chave: A consciência humana e o vínculo natural do homem com aqueles que sofrem. A ética e a solidariedade, são elementos que dão sustentação à ações responsáveis. Pressupõe, que o homem é um ser dotado de consciência. Uma consciência é um sentido ético, natural do homem, que é, em grau significativo, independente de vários sistemas éticos. Há diversos sistemas éticos, mas há apenas uma consciência no ser. A consciência constitui uma realidade própria na pessoa, muito parecida com a razão e a vontade. A consciência é uma voz que chama o homem às suas responsabilidades. E qual é o chamado para dia de hoje? Em primeiro lugar, chama-nos a querer ter uma consciência. Diante disto, percebemos o risco que assumirmos ao dizer que a ética na solidariedade, é uma ética da consciência. Porém, corre-se o risco de haver pessoas que possuam deficiências na constituição de sua consciência. Não poderia ser mais seguro, ignorar a consciência e formular normas de conduta e fixá-los ao longo do caminho do homem? Certamente, seria mais seguro. Porém, agindo desta forma, nós não construiríamos a moralidade humana. Para ser capaz de construir uma moralidade, há regras que devem ser aceitas pela consciência. Consciência, é o sentido interno de como entender o quando, onde e a quem se dispensa a solidariedade. Um homem, que se desviou do caminho da moral e da honra e foge de suas responsabilidades, é um homem sem consciência. Portanto, distante do alcance da solidariedade.
A solidariedade autêntica, renovo aqui minha colocação, é a solidariedade das consciências e estas são colunas na construção da universalidade. O óbvio está nisso, pois ser solidário com o ser humano, significa ser sempre capaz de confiar nele, e confiar em uma pessoa significa acreditar que há “algo” firme nela, que não falha. A consciência é este “algo”, que está firme no homem e o que não causa desapontamento. A solidariedade não é apenas o trabalho daqueles que sempre tiveram consciência, mas também, o trabalho daqueles que assimilaram em si mesmos os ensinamentos e seus valores daqueles que vieram antes de nós, através da transformação da vida e alcançaram a verdade. Como exemplo de solidariedade, apresento aqui a parábola do Bom Samaritano. Ele também viveu dentro de uma sociedade particular, dentro do mundo de uma determinada religião e política. Mesmo assim, sua ação estava um pouco além deste mundo, além das estruturas que este mundo impôs sobre as pessoas. A ação do Bom Samaritano, era uma resposta a um grito concreto, de um homem concreto. Isso é simples, alguém pede por ajuda. O homem ferido, está na vala de uma estrada. Sua dor é de um caráter particular, pois não é o efeito de uma doença, coincidência da má sorte, ou ainda pela idade avançada, mas uma dor infligida por outro homem. Esse fato é importante, porque é exatamente isso que move a consciência e apela à solidariedade. Nada produz mais indignação, quanto um mal que foi imposto por um homem a outro homem. A solidariedade nasce à vista de tal sofrimento e é particularmente profunda. Para quem é a nossa solidariedade, então? É, antes de tudo, para aqueles que foram oprimidos por outras pessoas e cujo sofrimento é injusto e poderia ter sido evitado.
A solidariedade, para com aqueles que sofrem às mãos de alguma pessoa é particularmente vívida, forte e espontânea. A ética e a solidariedade, constroem espaços onde as consciências dos samaritanos podem agir. Solidariedade é proximidade, é fraternidade para com os oprimidos. Um homem, se liga a outro homem para proteger aquele que precisa de cuidados. Eu estou com você, você está comigo, nós estamos juntos e prontos para o socorro justo e perfeito de nosso próximo. O pedido de socorro vem pelo diálogo e é preciso estender a mão, cruzar o limiar, oferecer a destra, encontrar um lugar em comum para conversar. Este lugar, não será mais o esconderijo onde está oculta a dor que o aflige, no qual o homem permanece só com o seu medo, mas sim, um lugar de encontro de consciências despertas, o início do exercício da solidariedade. É preciso, não apenas superar o medo e dissipar o preconceito, mas também se deve encontrar uma linguagem comum. O diálogo seguro, produz revoluções verdadeiras na vida das pessoas e das sociedades. Em outras palavras, ele restaura a aparência adequada às coisas e assuntos. Solidariedade, é sempre solidariedade entre algum diálogo. Enquanto eu olhar para mim, apenas com os meus próprios olhos, eu sei apenas uma parte da verdade. Enquanto você olhar para si mesmo, com seus olhos, você também sabe apenas uma parte da verdade. De modo correspondente, quando olho para você e só tomo em consideração o que eu vejo e quando você olha para mim e você leva em conta apenas o que você vê, nós dois estamos sob uma visão parcial da vida e seus sofrimentos. O diálogo, ao trazer a luz, revela a verdade. No entanto, surge uma pergunta: Um diálogo sobre o quê? Há tantas verdades sobre o mundo, sobre o homem, sobre coisas e assuntos. É necessário ter alguma hierarquia de importância. Falamos continuamente aqui, sobre a ética e a solidariedade, que se tornou a questão deste conteúdo. Qual é o tema principal do diálogo que surge da ética e a solidariedade? De um modo geral, penso eu, que seja o sofrimento. Um sofrimento, que foi infligido a um homem por outro homem. Este tipo de sofrimento, é um ultraje de uma maneira particular. Outro homem, não deve trazer dores adicionais ao fardo natural da vida humana. Deve antes, esforçar-se para aliviar o fardo da vida que os homens carregam. Nossa tragédia é que o oposto acontece muito frequentemente.
Essa dor, uma dor desnecessária na mão de um outro homem, é particularmente indignante e espontaneamente causa protestos, por parte dos homens livres e de bons costumes. Portanto, o grito de solidariedade é capaz de chegar muito longe e denunciar a opressão. O diálogo de solidariedade, é um diálogo de consciências despertas, preocupando-se com a verdade sobre o sofrimento desnecessário do ser humano e este diálogo desperta a esperança. Uma esperança desperta, uma esperança que importa, uma esperança que se reporta, demonstrando que as coisas são capazes de serem mudadas. O pão, deve ser pão, uma palavra, deve ser uma palavra e uma pergunta, deve alcançar a sua resposta e tudo deve encontrar-se no mesmo plano de um diálogo franco e consciente. Quando o equilíbrio dos interlocutores é alcançado em um diálogo, há o perfeito entendimento sobre o sofrimento e este remete ao exercício da solidariedade. A fidelidade surge e cresce onde a luz reina. Na escuridão tudo fica suspeito. O homem, deve saber com quem ele trata e o que está em questão, no caso da solidariedade, é o sofrimento humano. Neste momento, ele deve estar pronto para revelar-se em toda a sua verdade e estar apto ao exercício da solidariedade.
Solidariedade, é doar o que não se tem!
Solidariedade, é receber o que não doamos.
ECN - 31/05/2017