Nosso país está passando por momentos perigosos, de
tempos estranhos e de caminhos tortuosos. Acompanhei os noticiários do rádio e
televisão que constantemente noticiaram estes bárbaros
acontecimentos e minha esposa e eu temos constantemente discutido
sobre estas questões que também nos tem angustiado. Lembro-me da
Lei de Talião, do latim Lex Talionis, lei esta que consiste
na justa reciprocidade do crime e da pena, ou seja, estipula que para
um olho só deve-se pleitear um olho em contrapartida, e não mais
que isso. Mas será que é este o sentido da pena? É este o sentido
de se fazer justiça? O homem que tivesse seu filho assassinado
“ganharia” o direito de matar o filho do assassino? E onde se
encaixaria o perdão e a justiça? Uma das grandes falhas da era da
Lei de Talião foi dar à palavra justiça um sentido restrito e
precário. Com o decorrer do tempo, verificou-se que ela deixava algo
a desejar. Não satisfazia ao ser humano por si só e nem à
comunidade em que estava inserido. Como cidadãos de um mundo cujas
transformações sociais acontecem de forma tão rápida, sabemos que
justiça está muito além do “olho por olho, dente por dente”.
Qual seria, então, a alternativa? É aí que a compreensão do que é
perdão torna-se importante. Até se desvincular da era Lei de Talião
o homem precisou rever conceitos internos e sociais. Um deles era
exatamente compreender e exercer o perdão. Perdoar não é esquecer
ou deixar esquecido. “Perdoar é lembrar sem mágoa. ECN”. É ser
liberto da dor e da perda e buscar a compreensão do que é “ser
humano”. Um dos mais relevantes entendimentos sobre perdão é a
conscientização de que todo homem é suscetível de erros e acertos
e, como consequência, o mesmo foi buscar uma RESPONSABILIZAÇÃO, e
não uma punição como visava a Lei de Talião, para seus atos de
forma tal que pudesse RESGATAR qualquer indivíduo ao CONVÍVIO
SOCIAL. Não sei corretamente, e creio que ninguém possa definir
exatamente, o que seja justiça. Mas, assim como a liberdade, “é
uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que
explique e ninguém que não entenda.”, Cecília Meireles.
Temos um ideal de justiça, e este ideal ajudará o exercício de
perdão. Perdão a si mesmo e ao outro para mudar o olhar e
transformar a PENA/PUNIÇÃO para a PENA/SANÇÃO.
Nossa civilização
desenvolveu uma sociedade respaldada no capitalismo, no qual a
população gera um ciclo interminável de descarte, incluindo ai o
descarte do ser humano, onde tudo acaba se inutilizando em pouco
tempo. Os VALORES e TENDÊNCIAS são cada vez mais EFÊMEROS e a
sociedade atual compra e se livra de suas “tralhas”, cada vez
mais rápido. No mundo onde hoje habitam 7 bilhões de pessoas, o
futuro pode estar fadado ao lixo e a poluição. Nessa perspectiva,
para suprir as preferências de consumo, o ser humano acaba por
interferir com agressividade no meio ambiente, no convívio social e
na relação humana interpessoal. A “ânsia de TER” superou à
“ânsia de SER”, os níveis de desestruturação familiar são
altos e a perda de valores geradores da convivência pacífica em
sociedade é alarmante, provocando, desta forma, consequências que
podem motivar uma pessoa a cometer crimes, a ter conflito familiar,
gravidez precoce, abortos, violações e elevados índices de
criminalidade infantil. Por IMPOSIÇÃO do EGOÍSMO, a sociedade
caminha aos passos largos e sem disfarçar contra a unidade familiar,
a vida, a verdade, a integridade, a paz, a justiça, a honestidade e
o amor. Em um tempo no passado a SOCIEDADE BRASILEIRA falhou com
aqueles que ocupam o Sistema Carcerário Brasileiro. Dizer que a
responsabilidade é dos governos, é se autodeclarar corresponsável
por ter eleito pessoas sem capacidade administrativa e estratégica.
As mazelas sociais existentes no Brasil, como o não acesso à
educação, à saúde, à alimentação, aos bens culturais e à
falta de condições dignas de habitação é uma realidade na
sociedade brasileira. A desigualdade, fruto de injustiças sociais,
de políticas públicas irresponsáveis e do INDIVIDUALISMO, produz o
cenário insustentável da sociedade. O estado não garante e nem
atende as necessidades fundamentais do cidadão, enquanto o cidadão
não se SENTE RESPONSÁVEL pelo DESTINO da sociedade a que pertence.
A necessidade do envolvimento dos jovens no resgate de valores
CÍVICOS e MORAIS para alterar o atual quadro negativo, visando
facilitar o processo de desenvolvimento do país de forma harmoniosa
e com espírito de humanismo e amor ao próximo se faz urgente. A
reestruturação da família e seus valores é um caminho a ser
trilhado com insistência. O papel do cidadão é o mais importante
de todos, pois é o conjunto de cidadãos que deve escolher o tipo de
sociedade em que pretende viver, determinando os papéis das suas
principais instituições e agentes. O cidadão deve ser INFORMADO,
ATIVO, EXIGENTE e PARTICIPATIVO. Cada cidadão deve procurar ter uma
opinião fundamentada da forma como a sociedade está organizada e
procurar dar a sua contribuição para a construção de uma nova
sociedade, que vá para além da sua própria atividade profissional,
participando portanto, também em projetos coletivos. Deve ser
exigente quanto ao papel do Estado e compreender que só tem a ganhar
com um Estado forte e independente, menos asfixiante em suas taxas e
tributos e mais subsidiário, com melhor qualidade de serviço e mais
eficiente. Deve ter a consciência plena de que os custos pelos
desperdícios da incompetência do Estado também são seus. O
cidadão deve ainda querer que a sociedade seja uma sociedade de
oportunidades, mais aberta e flexível, para seu benefício próprio
e dos seus descendentes. O cidadão terá necessariamente que assumir
os seus deveres, desde os deveres fiscais até aos deveres de
preservação de uma concorrência saudável de mercado e negócios,
passando pelos deveres já referidos de participação democrática.
Tem cada vez mais que se responsabilizar por si próprio, pela sua
formação e desenvolvimento de competências, por todos os atos e
atitudes que vai tomando ao longo da vida. O cidadão não pode estar
à espera do Estado, ou de uma qualquer outra organização, para
resolver os seus problemas ou para ver correspondidos todos os seus
desejos. De tudo isso não se pode ocultar os que defendem uma
sociedade individualista e egoísta em que cada um tem se que
“safar” por si próprio.
É
ao contrário.
É o
respeito que a sociedade e o coletivo deve merecer que implica que
cada um procure não ser um ônus para a sociedade, mas antes dê uma
contribuição ativa para a sua dinâmica, na sua criação de valor
e qualidade, de forma que mais riqueza, material e moral, possa ser
criada em benefício de todos. Só assim será possível garantir a
existência na sociedade dos recursos e das atividades necessárias
para providenciar seletivamente uma vida condigna a todos aqueles que
objetivamente não a conseguiram alcançar pelos seus próprios
meios. É o respeito que cada cidadão merece no que implica, que a
sociedade não pode tratá-lo como um mero número e desqualificá-lo,
mas antes desenvolvê-lo, torná-lo independente, e nele apostar e
acreditar. Temos que ser uma sociedade que valoriza e responsabiliza
o cidadão, que garante o princípio da igualdade de oportunidades de
ascensão numa educação de base de qualidade para todos, que está
presente solidariamente sempre que tal for realmente necessário,
sabendo criar oportunidades para os cidadãos, por forma a que estes
se realizem pessoal e profissionalmente. É esta nova sociedade que
os cidadãos devem exigir e para a qual devem contribuir através do
seu próprio papel.
“QUAL
SERÁ SEU LEGADO SOCIAL PARA SEUS DESCENTES?”