Estamos numa quinta-feira de outubro e o dólar australiano acaba de cair 250 pontos face ao dólar americano, em pouco mais de 24 horas, um tombo enorme. Anas Sleiman dá uma explicação aos seus seguidores, ao mesmo tempo que emite um sinal de esperança. Não é por acaso que se tornou um dos três mais proeminentes traders da eToro, a principal rede de social trading, que está para a troca de informações sobre investimentos financeiros como o Facebook para a partilha de fotos e as comunicações entre familiares e amigos, ou o Twitter para a divulgação de notícias. Sleiman, que opera a partir da Irlanda, explica o que pensa e vai fazer nos próximos dias com os dois pares de FOREX que lhe estão a causar, bem como aos seus 9470 copiers, um grande prejuízo já há alguns dias. Vai manter as posições perdedoras na expectativa de vir a recuperar a médio prazo, pois no imediato pensa que o par AUD/USD (dólar australiano versus dólar americano) ainda pode ir abaixo dos 0,91, enquanto o GBP/USD (a libra contra o dólar) vai regressar ao patamar dos 1,7. O social trading proporciona momentos iguais aos de qualquer outra rede social: notável foi a onda de solidariedade que se gerou nesse post de quinta-feira, dia 24, com meia centena de seguidores a colocar o seu like e os muitos comentários a oscilarem entre o agradecimento pela transparência e as palavras de encorajamento. As horas seguintes deram razão a Anas Sleiman: o AUD/USD recuperou 85 pontos e fechou a semana em torno dos 0,9250 - ou seja, cada dólar australiano valia 0,9250 dólares americanos, depois de ter estado a 0,9165. Oito cêntimos e meio pouco impressionantes mas que podem valer uma fortuna na negociação de câmbios e no mercado de futuros, os CFD, de contract for difference, um instrumento financeiro que permite especular na direção dos movimentos de ativos dispensando a respetiva posse, como não existe troca física de ativos, o negócio é efetuado pela diferença entre o preço de compra e de venda do contrato. Num como noutro mercado os negócios - ou trades - contabilizam-se em pontos conhecidos por pip: um centésimo de 1%, o mínimo movimento que uma moeda pode realizar. 85 pip podem valer 8,5 dólares ou 85 ou mesmo 8500, dependendo do número de lotes de mil pip (o mínimo em muitos operadores) que tenham sido negociados. Para Anas Sleiman e a sua rede de seguidores aqueles 85 pontos foram salvíficos: permitiram reajustar posições para suavizar as perdas e ainda gerar lucros com a descida esperada do par AUD/USD, que acabou por se verificar precisamente como Sleiman profetizara.
O investimento financeiro é uma arte reservada a especialistas capazes de reunir e processar informações técnicas e financeiras, dotados de largos recursos para investir no ambiente dos operadores profissionais. Contudo, e a exemplo de outras áreas, a informática e as redes trouxeram uma revolução à indústria financeira. Primeiro, surgiram dezenas de novos operadores que baixaram o custo de entrada, democratizando os mercados dos câmbios, de ações e de futuros. Mas foi o segundo movimento - a versão 2.0 - que trouxe um impacto decisivo de mudança: já não é preciso ser um especialista financeiro para fazer bons negócios e rentabilizar investimentos, basta seguir os melhores e copiar as suas decisões. Em tempo real. Fundada em Chipre, em 2007, a rede eToro acrescentou em 2011 uma inovação: a automatização da cópia de decisões. Ou seja: é possível escolher os melhores traders (há listas para isso) e, além de os seguir (que em linguagem de Facebook podemos traduzir por “ser amigo”), investir determinada soma nos seus negócios. Anas Sleiman é um dos traders de sucesso contínuo ao longo dos meses, o que lhe confere grande prestígio, levando 9470 pessoas a copiá-lo: sempre que faz um negócio, para cada uma delas o sistema abre automaticamente um negócio equivalente, na proporção do montante atribuído pelo copiador à carteira de Sleiman. Antes do social trading eram precisos alguns milhares de euros e o recurso a profissionais para investir em câmbios, ações, índices, ouro ou petróleo; agir por conta própria era altamente complicado. Depois do social trading basta uma centena de dólares, despender algumas horas a ler e compreender o mecanismo de aferição do valor dos traders e premir o botão de “copiar”. Sendo que as redes proporcionam playgrounds - zonas onde podemos negociar virtualmente, com moeda simbólica em vez de dólares reais, ideal para todos aqueles que, dispondo de algum tempo livre, queiram aprender a lucrar com o comportamento dos mercados financeiros. Além disso, aguardam-se com curiosidade os efeitos da “informação social” sobre as decisões de investimento. O crowdsourcing, ou a “sabedoria das multidões”, tem provado a sua utilidade em diversas atividades: poderemos vir a acrescentar a layer social às informações de carácter técnico e aos fundamentos econômicos que tradicionalmente servem de base às decisões? E que peso terá? Desde logo a layer social tem a vantagem da diversificação: seguir vários gurus, como são conhecidos na eToro os traders de sucesso, permite escudar os investimentos.
Quando Anas Sleiman estava a passar a sua má semana, traders como o alemão Viktor Dellos (ganho de 23,16%) ou o indiano caraj51, ganho de 19,58%, depois de ele próprio ter passado uma tormenta com os pares australiano e neozelandês garantiram aos seguidores os lucros habituais. O social trading está a dar os primeiros passos, sendo ainda arriscado prever até onde irá o seu potencial disruptivo. Mas uma coisa é certa: fornece uma série de opções de investimento adequadas a todos os tipos de bolsas e conhece uma fase de grande expansão. Os números comprovam: 73 milhões de trades efetuados por três milhões de utilizadores registados na eToro, rede que já opera em 200 países, incluindo Portugal. No que pode ser visto como a resposta possível, e atempada, ao social trading, os operadores de câmbios e de futuros que funcionam na internet procuram socializar-se: multiplicam-se os seminários em linha e alguns fornecem a possibilidade de diálogo em tempo real com traders profissionais. E a eToro não é a única rede do género - a ZuluTrade e a Currensee aumentam a oferta desta subespécie das redes sociais, ajudando a definir o futuro do investimento financeiro em rede.
Fonte: Dinheiro Vivo.
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