Está prestes a explodir um
surto mundial entre crianças e adolescentes de classe média, do qual o Brasil
está incluso, pelo uso daquilo que muitos a consideram como veneno da
atualidade ou como as “drogas da obediência”, mas aceita por muitos como uma solução
bem acertada no tratamento de TDAH - Déficit de Atenção e Hiperatividade, sendo
indicado para esses casos o medicamento com o princípio ativo de cloridrato de
metilfenidato mais conhecido por Concerta ou Ritalina. Este medicamento tem
sido consumido em larga escala, tendo o Brasil em segundo lugar e os Estados
Unidos em primeiro lugar em seu consumo. De acordo com o Instituto Brasileiro
de Defesa dos Usuários de Medicamentos em 2000 foram vendidas 71 mil caixas dos
psicotrópicos no Brasil, passando para a marca de quase 2 milhões de caixas em
2009. Em São Paulo, onde as drogas são distribuídas via SUS - Sistema Único de
Saúde, uma pesquisa de 2011 do Fórum sobre Medicalização da Educação e da
Sociedade, composto por cerca de 40 entidades, mostrou que 154 municípios
paulistanos compraram em 2005 cerca de 55 mil comprimidos da ‘droga da
obediência’. Cinco anos depois, o consumo saltou para 946 mil, 17,2 vezes maior.
A projeção para 2011 era de que a compra chegasse a 1.493.024 de doses. Para o
Doutor em Neurociência e Professor de
Psiquiatria Infantil da Universidade Federal de Minas Gerais Arthur Kummer “Os medicamentos não são
tão feios quanto dizem. São medicações com maior índice de eficácia na
medicina. Quem sofre do transtorno e faz uso deles tem de 70% a 80% de melhora
no aprendizado. Nenhum outro medicamento traz essa porcentagem como resultado.
Para as crianças em idade escolar, que sofrem do distúrbio, o tratamento
medicamentoso é de segunda linha: a primeira seria a terapia comportamental,
que conta com a participação dos pais.
Mas o grande problema é que há poucos
profissionais dessa área, assim, o remédio passa a ser a primeira opção. Os
efeitos colaterais são bem tolerados pela maioria dos pacientes. Nunca houve
uma morte em virtude das doses. É tão seguro que a Academia Americana de
Pediatria dispensa o pedido de eletrocardiograma antes da prescrição. No
início, o remédio pode alterar um pouco o sono e o apetite, mas os benefícios
superam isso. Meninos da 3ª e 4ª séries, que não conseguiam ser alfabetizados,
depois de medicados, em duas semanas, conseguiram aprender. Quem não se trata,
no futuro terá nível educacional mais baixo, empregos piores e pode até se
envolver com drogas.” Já para a Doutora, Titular de Pediatria da UNICAMP e
Professora Maria Aparecida Affonso
Moysés, membro fundadora do Fórum de Medicalização “O consumo exacerbado
das “drogas da obediência” é o genocídio do futuro. Vivemos, sim, uma epidemia.
A Ritalina e o Concerta são drogas derivadas da anfetamina e da cocaína. A
medicação age aumentando a concentração de dopamina, neurotransmissor associado
ao prazer. Como o remédio age por algumas horas, quando o efeito passa, tudo
que o usuário quer é ter aquele prazer de volta. Quem usa esse estimulante fica
com a atenção focada. A criança só consegue fazer uma coisa de cada vez, por
isso, fica quimicamente contida, não questiona nem desobedece. Cada vez mais os
pais estão sendo desapropriados pelos profissionais da saúde e da educação de
ver seus filhos e de ouvir o que eles querem dizer. Então, se ele está agitado,
desatento, impulsivo, vamos dar um remédio para que fique calado e dopado? É
mais fácil lidar com um problema ‘médico’ a mudar o método de educação da
criança. O TDAH pode ser o grito de
socorro de uma criança que está vivendo um conflito em ambientes em torno
dela. A pessoa que faz uso desse tipo de remédio tem de sete a dez vezes mais
chances de ter uma morte súbita inexplicada.” Os maiores problemas relacionados
ao uso de Ritalina estão no uso incorreto e no descuido no diagnóstico.
Geralmente, psiquiatras e professores partem de uma análise estereotipada,
baseada no senso comum: se é inquieto, tem TDAH; se é distraído, também. Muitos
não utilizam o DSM - Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos
Mentais para diagnosticar o transtorno. Aí está o erro. Quando as análises
são feitas erroneamente, o paciente passa a ser medicado com Ritalina, mesmo
sem precisar. E um dado chama atenção para os possíveis diagnósticos errados
pela explosão de vendas do medicamento. Em oito anos (de 2000 até 2008), a
comercialização anual de caixas de Ritalina passou de 71 mil para 1,147
milhões, sem contabilizar as demandas revendidas clandestinamente no país. Há
portanto a opinião de alguns psicólogos que acreditam que o aumento no consumo
é reflexo de uma política de medicalização. A psicóloga Roseli Caldas afirma
que tais vendas espelham uma sociedade imediatista, que busca nos remédios
resultados rápidos e eficientes. “A medicalização é como um mascaramento de
questões sociais, uma vez que atribuir doenças a indivíduos nos exime de buscar
nas relações sociais, econômicas e políticas as causas e soluções para os
problemas da sociedade. O problema não estaria na cabeça das pessoas, mas na
sociedade. É o que acredita Maria Aparecida Moyses, pediatra e professora da
Unicamp: “Se tem tanta gente deprimida ou desatenta, temos que entender que
elas estão sendo produzidas pelo modo que a gente vive. Nunca se tomou tanto
remédio e nunca houve tantas pessoas doentes. Isso não pode estar certo.
O que
eles fazem é uma biologia de um corpo morto, de um cérebro sem vida, sem afeto,
isolado do meio em que vive”. No caso da educação, fica mais fácil diagnosticar
crianças do que tentar compreender quais fatores poderiam ser responsáveis pela
falta de atenção ou pela impulsividade”, enfatiza a psicóloga. Recentemente, o
Conselho Federal de Psicologia lançou uma campanha com o seguinte slogan: “Se
você acha que seu filho está muito arteiro, fique calmo. Ele está apenas sendo
criança, não tem TDAH”. Outra manifestação contrária ao uso destes medicamentos
é apresentado por Marilene Proença que não é uma pajé. É psicóloga, integrante
do Instituto de Psicologia da USP, e opõe-se à razão de ser da ABDA. “TDAH não
existe. O que existe são crianças diferentes, com formas de aprender
diferentes.
Algumas são mais focadas, outras mais dispersas. Não existe um
padrão de aprendizado”, ela postula. Para Marilene, a solução não cabe em um
comprimido branco de pouco mais de 1 cm de diâmetro: “Nenhum medicamento no
mundo daria conta da complexidade que é o processo de atenção e aprendizado de
uma criança. Ele envolve afetividade, desejo, representações que a criança
cria”. Para os pais aflitos, que não sabem o que fazer com seu filhos
travessos, ela acena um caminho, antes que eles decidam passar a bola para um
psiquiatra: “A primeira coisa é ouvir a sua criança. O que ela tem a dizer
sobre a escola? Os amigos a tratam bem? O professor escuta ela? Mudar para uma
escola que entenda melhor a criança também deve ser levado em consideração”. Os
problemas normais da vida são designados pelas indústrias farmacêuticas
como DOENÇAS MENTAIS, precisando assim de remédios cuja eficácia não
podem ser mensurados, mas que causam efeitos secundários notáveis. Dessa forma:
Timidez, o diagnóstico: Desordem de Ansiedade Social - Código 300.23
Perda de um Ente, o diagnóstico: Desordem Depressiva Maior - Código 296.2
Saudades de Casa, o diagnóstico: Desordem de Ansiedade de Separação - Código 309.21
Desconfiança, o diagnóstico: Desordem de Personalidade Paranoica - Código 301.00
Ter Altos e Baixos, o diagnóstico: Transtorno Bipolar - Código 296.00
Ser distraído, o diagnóstico: DHDA - Código 314.9
É por isso que é quase
impossível hoje em dia ir num psiquiatra hoje e não ser diagnosticado com uma
doença mental. Em quase 100% destes diagnósticos são recomendados psicoativos.
No geral, eles causam cerca de 700.000 reações adversas e 42.000 mortes durante
um ano. Os psiquiatras recebem comissões pela indicação destes remédios e a
indústria farmacêutica lucra U$ 330.000.000.000 por ano. Estes
remédios não tem um poder de cura comprovados. A única coisa que se
comprova é uma extensa lista de efeitos secundários nocivos. Está cada vez mais
proibido viver com dores, o sofrimento é proibido, temos que viver dentro de
uma propaganda de absorvente. Sem sofrimento, não aprendemos a lidar com o
mundo real, não evoluímos e não temos coragem para suportar a vida como ela é.
O que resta é os questionamentos como: O que estão fazendo com as nossas
crianças? Como estão sendo diagnosticados esses pacientes? E os remédios, como
estão sendo prescritos? É algo que está sendo dado para a ansiedade dos pais,
dos educadores e dos psiquiatras para responder às inquietações dos meninos.
Alguém está preocupado com isso?
Assista o vídeo abaixo, é muito interessante a reportagem.
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